As Obras da Carne e o Fruto do
Espírito
Paulo ao escrever aos irmãos das igrejas
existentes na Galácia defende a doutrina bíblica da salvação e a autoridade da
sua vocação ministerial. A presente carta tem valor incomparável para as
igrejas locais do presente século, pois outorga clareza nos assuntos
doutrinários e convalida o poder e os benefícios da obra vicária de Jesus.
A instituição do homem é tríplice: espírito,
alma e corpo. O ser humano possui faculdades que o distingue dos demais seres
criados por Deus.
As faculdades do espírito humano se resumem
em fé e consciência, já o intelecto, a vontade e as emoções são faculdades
pertencentes à alma, e por fim, os cinco sentidos completam as faculdades do
corpo: paladar, visão, tato, olfato e audição.
Entretanto, Adão representante da humanidade
no pacto das obras deixou como herança a culpa, a corrupção e a morte. Logo, as
obras da carne são demonstrações físicas e espirituais da degeneração humana.
I – ANDAR NA CARNE versus
ANDAR NO ESPÍRITO
Já estou crucificado com
Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na
carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si
mesmo por mim (Gl 2.20). Pode-se destacar para associar a
este tópico a seguinte frase: vida que agora vivo
na carne. Paulo não estava
descrevendo uma ação pecaminosa. O que o apóstolo estava descrevendo era a
respeito da nova vida que o mesmo agora estava desfrutando em Cristo Jesus.
Pois, com a queda de Adão três heranças foram outorgadas a humanidade, e estas
são: a culpa, a corrupção e a morte. A segunda delas “corrupção” relaciona com
a interpretação de muitos na frase em questão, porém, o que Paulo trata não é o
termo “sarx”, carne, mas a palavra “soma” vida no corpo.
No grego temos duas
palavras que precisam ser bem analisadas, a primeira é sarks. Em geral, sarks
pode ter o sentido literal de carne, corpo, pessoa, ser humano, limitações
físicas, o lado externo da vida, o sentido natural, e por fim, vem a carne como
instrumento voluntário do pecado, que recebe esse forte conceito em Paulo. Assim,
no constante uso que Paulo faz da palavra carne está apontando para a natureza
pecaminosa.
A palavra sôma do grego é
corpo, é bom lembrar que ela é neutra. O sôma pode referir-se ao corpo de um
ser humano ou animal, mas quando Paulo faz uso dessa palavra em algumas de suas
cartas, está dando ênfase à personalidade completa, o homem segundo as
intenções de Deus (GOMES, p.8,9).
II – OBRAS DA CARNE UM
CONVITE AO PECADO
As obras da carne podem ser resumidas em
quatro grupos: pecados sexuais, falsa religiosidade, atitudes impróprias para o
próximo e assuntos relacionados com o domínio próprio.
1. PECADOS SEXUAIS:
Os quatros tipos de pecados que correspondem
com atos sexuais estão diretamente ligados com a desobediência do sétimo
mandamento “não adulterarás” (Êx 20.14).
1- Adultério. Em
algumas versões o termo utilizado é prostituição (pornéia), isto é, imoralidade
sexual. Para muitos eruditos a prática do adultério corresponde com a traição
entre casais e, de fato adultério tem como significado dormir em cama estranha.
Na Escritura Sagrada a infidelidade é
apresentada em três níveis. No caso de Davi e Bate-Seba (2 Sm 11), ocorre o
encontro de uma única noite. Já no caso de Sansão e Dalila (Jz 16), ocorre o
caso confuso. Por fim, os filhos de Eli representam o vício sexual (1 Sm 2.22).
2- Fornicação. A
relação sexual entre jovens sem haver a venda do corpo e sem corresponder com a
traição de um terceiro se resume em fornicação.
3- Impureza. Correspondem
com pecados sexuais, atos pecaminosos e vícios. Porém, este tipo de pecado é
alimentado por pensamentos e desejos da alma (Ef 5.3, Cl 3.5).
4- Lascívia. Corresponde
com o pecado da sensualidade. Tal prática conduz as pessoas ao ponto de
perderem a vergonha. Por isso, tornou se natural no presente contexto
civilizatório a falta de decência e a perca do pudor.
2. FALSA RELIGIOSIDADE:
No campo sociológico é natural a seguinte
afirmação “todos os caminhos leva o homem a Deus”, porém, no contexto bíblico
isto é uma mentira, pois só um Caminho leva o homem à pessoa de Deus, isto é,
Jesus Cristo o Caminho (Jo 14.6).
1- Idolatria. Adoração
a ídolos. Na sociedade pós-dilúvio e consequentemente após o período marcado
pela bravura e agilidade de Ninrode (Gn 10.8-12) surgiu a prática do pecado de
idolatria. Imagine quantas consequências a humanidade já sofreu por causa do
pecado de idolatria adorando aquele que nada pode fazer (Sl 115. 4-8).
2- Feitiçaria. Pecado
em praticar o mal com ou sem o auxílio de demônios. Tal pecado está relacionado
com o espiritismo, com magia negra e com o culto a demônios (Ap 9.20,21;
22.15).
3. ATITUDES IMPROPRIAS PARA COM O PRÓXIMO:
O relacionamento humano é afetado por
práticas impróprias, e entre elas: a inimizade, a porfia, a emulação, a ira, a
peleja, a dissensão, a heresia e a inveja.
1- Inimizade. Corresponde
com ações e intensões agressivas. São reais em pessoas que não sentem o mínimo
de amor pelo próximo.
2- Porfias. É o resultado da inimizade. Ou seja, a
porfia é indicada pela falta de amor, pela presença de briga, pela oposição e
pela luta por superioridade.
3- Emulações. É o
desejo de ser superior aos outros. De fato corresponde com a vontade em ser o
primeiro sempre. Emulações ou ciúmes por Calvino é definida pela palavra ofensa
em ver o outro o excedendo.
4- Iras. Fúria explosiva
demonstrada por palavras e por ações. Paulo aconselha a igreja em Éfeso “não se
ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26), porém, anteriormente o apóstolo tinha
escrito “irai-vos e não pequeis”, isto é, os membros da igreja em Éfeso
deveriam impedir de suscitar da ira as seguintes obras da carne: a porfia, a
peleja e a dissensão.
5- Pelejas. Luta
com ambição para ganhar seguidores que aprovem suas ideias.
6- Dissensões. Ensinamentos
que fogem do padrão bíblico e que aprove pensamento faccioso. A dissensão tem
como objetivo provocar separação na congregação.
7- Heresias. Grupos
de indivíduos que destroem a unidade da igreja, e para isto, utilizam da
palavra de Deus com ensinamentos errôneos. Para tais pessoas vale o lema
apologético: “texto sem contexto, torna-se pretexto para o surgimento de
heresias”.
8- Invejas. Para
Calvino a inveja corresponde com o tipo de pessoa que se ofende com a
excelência de outrem.
4. ASSUNTOS RELACIONADOS COM O DOMÍNIO PRÓPRIO:
1- Homicídio. Ato
de matar alguém.
2- Bebedice. Uso
de bebidas que provocam alterações físicas.
3- Glutonaria. Descontrole
no uso de alimentos, sendo que tal pecado está também relacionado com o
envolvimento com drogas e sexo.
O apóstolo Paulo termina a citação sobre as
obras da carne da seguinte maneira “os que cometem tais coisas não herdarão o
reino de Deus”. Portanto, deixemos toda obra carnal que se opõem aos frutos do
Espírito.
III – FRUTO DO ESPÍRITO, UM
CHAMADO PARA SANTIDADE
No evangelho de João capítulo 15, Jesus é
apresentado como a videira verdadeira, o Pai é apresentado como o lavrador e os
cristãos como as varas (Jo 15.1,2). As varas frutíferas são limpas pela palavra
para darem mais frutos (Jo 15.3), logo se percebe o poder da palavra para
santificar e moldar o estilo de vida dos cristãos; tanto para com Deus, como
para com o próximo e também para consigo mesmo.
1. FRUTOS INTERLIGADOS AO RELACIONAMENTO COM DEUS:
O homem foi criado para manter ralação direta
com Deus, porém, com o surgimento do pecado este relacionamento foi alterado.
Mas, com a obra realizada por Jesus na cruz foi proporcionado à abertura de um
novo relacionamento sendo este agora debaixo da graça.
1- Amor. O
termo utilizado indica amor divino (ágape) que é imutável, sacrificial e
espontâneo. Por amou Jesus foi entregue para salvar a humanidade (Jo 3.16).
Quando este amor é operante na vida do indivíduo o mesmo passa a amar até mesmo
os inimigos (Mt 5.44).
Este amor não corresponde com sentimentos e
nem com ações que esperam recompensas, porém trata-se de um dom divino.
2- Alegria. O
relacionamento com Deus quando é espontâneo produz júbilo. Sendo que a alegria
como fruto do Espírito corresponde com o amor exultante e se manifesta na
tribulação (2 Co 7.4).
A alegria está relacionada com uma vida de
comunhão com Deus.
3- Paz. Como fruto do
Espírito a paz corresponde com o amor em repouso, isto é, ação divina que
tranquiliza o cristão.
O desfrutar da paz ocorre em três dimensões:
paz com Deus, paz com o próximo e paz consigo (Rm 5.1;12.18).
2. FRUTOS INTERLIGADOS AO RELACIONAMENTO COM OS OUTROS:
Assim como o pecado afetou o relacionamento
do homem para com Deus, também afetou o relacionamento do homem para com o seu
próximo. Basta acompanhar o noticiário para perceber que o relacionamento entre
os seres humanos tem sido afetado pelo pecado e como tal afetação tem
proporcionado catástrofes enormes, porém, quando o ser humano faz aliança com
Deus o relacionamento com próximo também é restaurado.
1- Longanimidade. Corresponde
com a paciência contínua, isto é, a paciência que leva o indivíduo a suportar a
falta de amabilidade dos outros para consigo. É o saber esperar a vontade de
Deus no tempo de Deus (Ec 3.1).
2- Benignidade. É o
amor em ação para com o próximo, pois é a condição que o cristão desenvolve em
expressar ternura e gentileza para todos que estão a sua volta. Logo, é a
atitude de fazer o bem.
3- Bondade. O
fruto da bondade indica que houve capacitação divina em transformar o indivíduo
em bom cidadão. Deus não transforma o homem para ser bom para com uns e mal
para com outros. Quando o indivíduo é transformado pelo sangue carmesim o
Espírito de Deus produz transformação, ou seja, desenvolve um novo ser.
3. FRUTOS INTERLIGADOS AO RELACIONAMENTO PESSOAL:
Para alcançar um relacionamento satisfatório
com Deus e com o próximo o indivíduo deverá está bem consigo mesmo, pois não há
possibilidade de desenvolver um relacionamento agradável com Deus e não amar a
si mesmo, isto é uma impossibilidade.
1- Fé. A fé como fruto do
Espírito está relacionada com a fidelidade. Ser fiel a alguém corresponde a
estar bem consigo e a entender o valor e os efeitos da fidelidade. A ausência
da fidelidade no mundo estar associada com a multiplicação da iniquidade,
porém, quando a fidelidade se manifesta não há lugar para insegurança.
2- Mansidão. O
fruto conhecido com mansidão dá sabedoria à pessoa que passa a agir com
autoridade e também sabe submeter de forma humilde. Mansidão é a prática
correta da humildade.
3- Temperança. É capacidade
de controlar a si mesmo. Três são os pontos fundamentais para serem
controlados: a língua, as paixões e os desejos que são contrários à vontade de
Deus.
E os que são de Cristo crucificaram a carne
com as suas paixões e concupiscências. O versículo indica a vitória sobre a
carne, logo os frutos do Espírito são desenvolvidos para esta finalidade de
vencer os desejos exagerados da carne e os mesmos são identificadores da real
transformação ocorrida na vida do cristão.
Referência:
GOMES, Osiel. As obras da carne e o fruto do espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.